O XUKALHO

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

VOTAR DE BRANCO E NÃO EM BRANCO

"É na política que todos mamam. E como não chega para todos, parecem bacorinhos que se empurram para ver o que consegue apanhar uma teta." - Rafael Bordalo Pinheiro.

Recebi esta interessante mensagem e achei-a muito oportuna para ser apresentada aqui e agora, atravessamos momentos que é preciso parar e reflectir e este é um desses.

Há mais de um século que Rafael Bordalo Pinheiro caricaturou a “porca da política”, um monstro que engordava barões enquanto o Zé Povinho suportava as agruras da bancarrota. Vítima de apetites insaciáveis, a monarquia caiu pouco depois. Seguiu-se a República que, durante cem anos, nos fez crer que a trama jamais se repetiria. Eis senão quando a “porca” ressuscitou perante os nossos olhos, tão hábil a cortar abonos de família, isenções de propinas e bolsas de estudo como a esbanjar em derrapagens e reformas milionárias. Poderemos acreditar num “Estado Social” que se preocupa com a mama de milhares, enquanto lança o desespero em milhões? Com a economia do país a balões de oxigénio – e o caos instalado na Administração – que português decente não teme pelo futuro das novas gerações? Em poucas décadas, os nossos partidos políticos tornaram-se agências de emprego, onde domina a lógica bolsista e da sobrevivência e já não há lugar para idealismos. Com a “grande porca” à mercê de quem mama e deixa mamar, nenhum dos enfermeiros improvisados, que agora se candidata, nos propõe mais do que electrochoques aberrantes e desumanos que nada resolvem. Na campanha eleitoral em curso, com a política e a comunicação social de braço dado, ninguém se atreveu a tratar a questão principal que é travar os apetites dos “boys” e iniciar uma cura drástica de emagrecimento. Impossível cortar no Estado Democrático, e não no Estado Social, quando as lideranças estão reféns de hordas de apoiantes que se batem pelo saque e que desprezam os ideais. Nesta República transviada, o primeiro milho é dos pardais, ao caso mais de 4000 Juntas de Freguesia. Em quantas não vemos “patriotas” a perseguirem “direitos adquiridos” tais como ordenados e senhas de presença desnecessárias, retribuições duvidosas, empregos abusivos para amigos e um sem fim de favores em troca de apoios?E pode algum político com rasgo deixar de apontar o dedo a centenas de Câmaras, que envolvem mais umas tantas legiões de parasitas? Perdida a decência, nesse pântano proliferam empresas municipais e administradores, vias verdes, popós, almoçaradas e outras peritas formas de mamar. Sem darmos conta, até os insuspeitos lugares nas Assembleias Municipais se tornaram tetas disputadas por quem corre atrás de senhas e de complementos de reforma.E porque não reduzir o número de deputados? Não será tempo de pôr fim a mordomias, reformas, viagens e subsídios imorais, conseguidos a coberto de leis feitas à medida dos interesses da corporação?Poderá também o Governo escapar a esta terapia de choque, quando há toda uma catrefada de assessores e de adjuntos a mamar em milhares de gabinetes, empresas públicas, institutos, fundações e outras tretas público-privadas que não permitem retirar o país da falência? Quantos incompetentes e oportunistas não ocupam dois e mais tachos? E que dizer dos Governos Civis, hoje “beneméritas” instituições que se destinam a asilar mais umas tantas centenas de obscuros “defensores da causa pública”, a quem a população mostrou o cartão vermelho em eleições autárquicas passadas?Será que a Presidência da República não terá também de emagrecer, quando se passeia em sessenta viaturas, alberga mais de seiscentos comensais e gasta o dobro da corte espanhola?É a sensação de que a nossa democracia se meteu por um beco sem saída, que está a causar tanto desânimo, com milhões de portugueses sem vontade de confiar o seu voto a políticos que não estão à altura da presente crise. Adivinham-se pois muitos votos de protesto, sejam nulos, em branco ou em pequenos partidos. E o pior será mesmo a abstenção, um sinal de que já não acreditamos na democracia e na República.Contra a abstenção, e seja qual for a nossa opção partidária, atrevo-me pois a propor que, no próximo Domingo, votemos trajando alguma peça de roupa branca: para desse modo extravasarmos o nosso protesto, mas também para dar fé da nossa determinação em prosseguir a luta pela defesa das instituições e pela coesão social.Há cerca de quinze anos, quando a causa de Timor uniu os portugueses e foi centro das nossas preocupações, todos nos mobilizámos dessa forma exemplar e a onda cresceu, imparável. Porque não repetir, agora, tão simbólica e feliz manifestação?

Autor: Cândido Ferreira

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