De Engenheiro a Médico
Há factos vividos por mim ao longo deste meu percurso de vida, que ao passá-los para o papel sinto que os revivo, com a mesma intensidade e lucidez como se tivessem acontecido ontem.
Viajando no tempo até aos anos 60. Estou em crer que foram dos anos mais ricos, não em tudo mas quase arriscaria a empregar a palavra “quase” tudo, na música, na independência cultural, cívica e sei lá quantas coisas mais…
Preparava-se o meu irmão para fazer o seu exame do 7º. Ano do Liceu o que o levaria depois, caso ficasse apto, a passar para a Faculdade.
Nunca seria problemático, porque como bom aluno que era, uma reprovação nunca se pôs como hipótese. Meu pai como sonhava que o filho fosse um Engenheiro (isto dos pais quererem sempre que os filhos sejam médicos ou engenheiros era e é natural, embora o meu nunca nos incutisse essas vaidades, sempre nos dizia que mais valia um bom sapateiro que um mau médico…) no entanto comprara-lhe um estojo de desenho do melhor que havia no mercado, sim, porque servir-lhe-ia para mais tarde.
Cá para nós, eu nunca vira o meu irmão como médico, recordo-me, no entanto, como transformara parte da nossa garagem num estúdio de experiências físicas, químicas e como me contratara como “ajudante de campo” para os seus estudos práticos de Ciências Naturais, eu que nunca tive apetência para ver sangue e ainda hoje sinto horror às batas brancas.
Mas como o meu irmão precisava duma ajudante , lá estava eu… Tinha que estudar uma rã e havia que a dissecar. Ainda me recordo dum frasco de compota vazio, bem lavado, onde metera previamente algodão embebido em clorofórmio, e de seguida instalara lá o animalzinho, tapando-o de seguida com uma rolha de cortiça.
Primeiro passo, anestesia, o resto não vos vou castigar com o andamento da operação, consequentemente a “paciente” não sobreviveu e o “médico” ficou com a marca do bisturi, porque a aselha da “contratada” não prendera bem a pata do batráquio.
Para quem vive em qualquer ponto do país a inscrição na Faculdade tinha que ser feita presencial, na capital, então Lourenço Marques (Maputo). E para lá partiu o nosso futuro engenheiro, com um fatinho todo “à maneira” para a “cidade grande”…para um jovem da sua idade 16 anos…a sua primeira viagem de avião “a solo” era uma aventura fantástica.
No dia seguinte de manhã, bem cedo, sim, porque naquelas terras a vida começa às 7 horas da manhã, estávamos na sala de jantar, preparando-nos para tomar o “matabicho” = pequeno almoço e aguardando que o futuro universitário se apresentasse para o fazermos em conjunto, quando apareceu com aquele sorriso de boa disposição que sempre lhe conheci. Então o nosso pai perguntou:
- Filho, como correu ontem o teu dia? Tudo bem? Havia muitos colegas para Engenharia aqui da Beira?
- Não sei pai. È que eu não me inscrevi em Engenharia, senti que me chamava a Medicina e na verdade pai, este País precisa mais de Médicos do que Engenheiros.
Viajando no tempo até aos anos 60. Estou em crer que foram dos anos mais ricos, não em tudo mas quase arriscaria a empregar a palavra “quase” tudo, na música, na independência cultural, cívica e sei lá quantas coisas mais…
Preparava-se o meu irmão para fazer o seu exame do 7º. Ano do Liceu o que o levaria depois, caso ficasse apto, a passar para a Faculdade.
Nunca seria problemático, porque como bom aluno que era, uma reprovação nunca se pôs como hipótese. Meu pai como sonhava que o filho fosse um Engenheiro (isto dos pais quererem sempre que os filhos sejam médicos ou engenheiros era e é natural, embora o meu nunca nos incutisse essas vaidades, sempre nos dizia que mais valia um bom sapateiro que um mau médico…) no entanto comprara-lhe um estojo de desenho do melhor que havia no mercado, sim, porque servir-lhe-ia para mais tarde.
Cá para nós, eu nunca vira o meu irmão como médico, recordo-me, no entanto, como transformara parte da nossa garagem num estúdio de experiências físicas, químicas e como me contratara como “ajudante de campo” para os seus estudos práticos de Ciências Naturais, eu que nunca tive apetência para ver sangue e ainda hoje sinto horror às batas brancas.
Mas como o meu irmão precisava duma ajudante , lá estava eu… Tinha que estudar uma rã e havia que a dissecar. Ainda me recordo dum frasco de compota vazio, bem lavado, onde metera previamente algodão embebido em clorofórmio, e de seguida instalara lá o animalzinho, tapando-o de seguida com uma rolha de cortiça.
Primeiro passo, anestesia, o resto não vos vou castigar com o andamento da operação, consequentemente a “paciente” não sobreviveu e o “médico” ficou com a marca do bisturi, porque a aselha da “contratada” não prendera bem a pata do batráquio.
Para quem vive em qualquer ponto do país a inscrição na Faculdade tinha que ser feita presencial, na capital, então Lourenço Marques (Maputo). E para lá partiu o nosso futuro engenheiro, com um fatinho todo “à maneira” para a “cidade grande”…para um jovem da sua idade 16 anos…a sua primeira viagem de avião “a solo” era uma aventura fantástica.
No dia seguinte de manhã, bem cedo, sim, porque naquelas terras a vida começa às 7 horas da manhã, estávamos na sala de jantar, preparando-nos para tomar o “matabicho” = pequeno almoço e aguardando que o futuro universitário se apresentasse para o fazermos em conjunto, quando apareceu com aquele sorriso de boa disposição que sempre lhe conheci. Então o nosso pai perguntou:
- Filho, como correu ontem o teu dia? Tudo bem? Havia muitos colegas para Engenharia aqui da Beira?
- Não sei pai. È que eu não me inscrevi em Engenharia, senti que me chamava a Medicina e na verdade pai, este País precisa mais de Médicos do que Engenheiros.
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